Júlia Almeida estreia série documental "O Leblon de Manoel Carlos": "Observador e generoso"

Atriz e empreendedora, ela contou com exclusividade à Vogue Brasil sobre o processo de produção da série de oito episódios e deu mais insights sobre como foi viver sob os holofotes desde criança e sua jornada para elevar a autoestima .As novelas de Manoel Carlos são um marco na dramaturgia brasileira. É quase impossível pensar no autor e não lembrar do Leblon, de suas Helenas, e, é claro, muita bossa nova nas trilhas. Pensando na importância do legado do pai, a atriz e empreendedora Júlia Almeida, decidiu produzir uma série documental íntitulada O Leblon de Manoel Carlos, de oito episódios -- e o primeiro acaba de ficar disponível no Youtube. Para ela, dirigir um projeto tão pessoal e significativo, especialmente quando se está lidando com o legado de um pai renomado, é uma tarefa que exige uma combinação de sensibilidade e profissionalismo. "Foi muito visceral. Manoel Carlos é intenso como profissional, como pessoa e sua história também. É muito fácil pensar nele e pensar instantaneamente em 'novelas', mas para escrever as novelas que tiveram os maiores ibope da televisão brasileira ele caminhou muito, mas muito mesmo e neste primeiro documentário começo a mostrar as inspirações do dia a dia deste escritor", diz em entrevista exclusiva à Vogue Brasil.Saiba mais:Sobre a influência de Manoel Carlos, Júlia, que convidou artistas ilustres para mergulhar mais a fundo nas obras do pai, reflete: "Meu pai sempre soube usar o poder que tinha em mãos para o bem. E acredito que isso é um dos maiores diferenciais dele. A palavra que mais escutei dos entrevistados ao descrever Manoel Carlos foram: observador e generoso." Entre os convidados estão Vera Fischer, Julia Lemmertz, Ângela Chaves, Rogério Gomes, Jayme Monjardim e Marcos Gasparian.E Júlia não faz parte desta história apenas como observadora. Ela, que está longe das telinhas desde uma participação em Tempos de Amar (2018), atualmente comanda uma marca de moda, a Florita Beachwear, além da produtora Boa Palavra, responsável pela produção da série. "Minha vida desde bebê era de colo em colo de atores e diretores, entrando nos estúdios e passeando pelas externas. Participava das reuniões com adultos tomando whisky, fumando cigarro na minha cara e recitando poemas...assistia filmes antigos e escutava jazz e música clássica", conta. Júlia lembra com carinho dos desafios e aprendizados de seus papéis nas novelas de seu pai, destacando personagens como Natália, de Por Amor (1998), e Estella, de Laços de Família (2000), como marcos em sua carreira.Além de sua jornada profissional, a atriz também fala sobre autoestima. Em seu perfil do Instagram, ela começou a falar de autoaceitação e saúde mental. Ela, que tem cicatrizes de nascença no pescoço, já precisou lidar com questões relacionadas à aparência, mas está em outra fase agora. "Juro que esqueço que tenho as cicatrizes hoje em dia. Mas já sofri muito com e por elas. Não vou ficar aqui choramingando, mas não foi um caminho fácil de percorrer."Júlia AlmeidaDivulgaçãoConfira o bate-papo abaixo:Vogue: Como foi a experiência de dirigir um projeto tão pessoal e significativo, considerando que você também é responsável pela gestão do legado de seu pai?Júlia Almeida: Foi muito visceral, Manoel Carlos é intenso como profissional, como pessoa e sua história também. É muito fácil pensar nele e pensar instantaneamente em 'novelas' mas para escrever as novelas que tiveram os maiores ibope da televisão brasileira ele caminhou muito, mas muito mesmo e neste primeiro documentário começo a mostrar as inspirações do dia a dia deste escritor. Meu mantra durante este processo foi 'É apenas o início, e é apenas mais um trabalho.' tive que separar o emocional do profissional. Confesso que neste caso não foi fácil mas tenho esta habilidade, assim como meu pai também tem. Vogue: Qual é a importância do Leblon como cenário na obra de Manoel Carlos e como o documentário explora essa relação entre o bairro e suas histórias? Júlia Almeida: Meu pai é nascido em São Paulo. Mas se perguntarem para ele diz sem pensar duas vezes 'sou Carioca'. Tenho um áudio recente dele em que pergunto sobre sua relação com o bairro e ele diz algo do tipo: 'Morei em muitos lugares no Rio...mas fui escolhido pelo Leblon, foi o destino.' o público tem muita curiosidade em saber como meu pai trabalhava, criava e entrava com tanta força e sabedoria na casa de todos com seus diálogos, histórias e personagens. Comecei esta série (é apenas a primeira) porque o Leblon sempre foi um personagem em suas novelas. Ele nunca teve técnica de autor, nunca seguiu fórmulas, na verdade seu escritório é uma bagunça. Ele trabalha intuitivamente. O documentário explora esta relação pessoal do Manoel Carlos escritor e pessoal com o bairro e como ele conseguiu, da sua maneira, ser o primeiro escritor de novelas do Brasil a valorizar um bairro. Ele soube usufruir do poder da telenovela brasileira. Como é um cronista nato, precisava de um cenário para suas histórias e Helenas (personagem que desenvolveu com nove anos de idade) então, escolheu o Leblon. Vogue: Há alguma história ou momento especial durante a produção que você gostaria de compartilhar? Júlia Almeida: Muitos! Mas não quero estragar a surpresa! O que falar agora? Só tenho a agradecer a todos que contribuíram e seus depoimentos. Me emocionei demais com todos ,mas principalmente com os meus colegas de trabalho que falaram com um carinho enorme. Enfim, haja coração! Espero mesmo que o público goste porque ele é tão amado por todos que merecem ver seus trabalhos de forma verdadeira e homenagens completas, como Manoel Carlos gostaria. O legado é dele.Vogue: O documentário mostra o impacto das obras de seu pai na cultura brasileira. De que maneira você acredita que a abordagem única de Manoel Carlos sobre as relações humanas e familiares influenciou outras produções televisivas e literárias?Júlia Almeida: Meu pai sempre soube usar o poder que tinha em mãos para o bem. E acredito que isso é um dos maiores diferenciais dele. A palavra que mais escutei dos entrevistados ao descrever Manoel Carlos foram: observador e generoso. Mas ele é extremamente firme com seu trabalho ao criar este universo que todos acompanham até hoje. O trabalho de um autor de novelas é escrever, e pronto. Ele não. Ele tomava conta da música, dos atores, diretores, escrevia cenas inéditas, cada tema central tinha uma causa social e, por saber que seu produto atingia o país inteiro ele falava de família, e não há nada mais complexo. Escrevia diálogos que na época os pais não tinham coragem de falar com os filhos, tocava em assuntos profundos que abria portas para discussões familiares. Isso marcou uma geração, claro! As obras dele são atemporais, urbanas e muito brasileiras também. Isso é extremamente importante porque inspira novos autores, abre diálogos em universidades...etc...Vogue: Como foi trazer tantos nomes importantes da atuação para falar sobre o trabalho do seu pai? Teremos curiosidades inéditas nessas histórias? Poderia adiantar algo?Júlia Almeida: Fizemos uma seleção de pessoas da vida pessoal e profissional dele que foram combustível diário para que ele encontrasse e construísse este universo apresentado para todos. E, também, empresários de hoje que usufruem deste 'novo Leblon' que mudou completamente por conta das novelas do Manoel Carlos. Portanto o documentário faz este link entre o passado e o presente. Vogue: Como a experiência de crescer em um ambiente onde a televisão e as novelas eram parte do cotidiano influenciou suas próprias escolhas de carreira e sua visão sobre a atuação? Júlia Almeida: Para mim esse universo sempre foi muito normal. Antes até de ter consciência do que acontecia ao meu redor. Minha mãe, Bety não gostava de me expor, na maternidade meu irmão Ricardo me vestia de menino e pedia para trocarem meu nome já que muita gente queria saber quem era 'a filha do Manoel Carlos'. Quando minha mãe saiu do hospital me enrolou em vários panos por conta dos paparazzis na porta, isso nos anos 80 e foi aí que ela percebeu que não tinha muito jeito...e precisava me jogar logo nesse universo. Então minha vida desde bebê era de colo em colo de atores e diretores, entrando nos estúdios e passeando pelas externas. Participava das reuniões com adultos tomando whisky, fumando cigarro na minha cara e recitando poemas...assistia filmes antigos e escutava jazz e música clássica. Tinha um cercado de criança no escritório do meu pai e ali ficava e adorava brincar com a máquina de escrever dele. Meu cotidiano era esse. Eu tinha pouca relação com crianças. Não tive muita escolha sobre ser atriz, aconteceu...sempre gostei porque externas e gravações eram meu quintal e assim iniciei minha carreira aos 7 anos, e aos 14 já tinha carteira assinada. Com 19 saí de casa para estudar em NY e voltava para fazer novelas. Meu pai falou 'Vai, não esqueça que não tem nada que o trabalho não cure. Você é mulher então cuidado com casamento por que prende, e filhos, que é para a vida toda. Foque no seu oficio, seja ele qual for. Seja do mundo.' e dali segui. Vogue: Você poderia comentar sobre como a indústria da televisão mudou desde que você começou e quais são as principais diferenças que você percebe em relação ao passado? Júlia Almeida: Ontem à noite vi um trecho de um videocast que Alice Braga fala exatamente sobre isso...e, pelo menos sobre o pedaço que assisti, concordo plenamente. Muita gente me pergunta por que não volto a fazer televisão, etc...estamos (todos) sendo de alguma forma pressionados a virarmos influenciadores de internet e o nosso país está no topo desta lista. Sobre o produto novelas/roteiro, assisto mais a streamings, adoro séries! Isso sim, acredito que estamos no caminho certo. Agora novela como antigamente?! Com aquele amor, energia, dedicação e prazer?! Ahhhhh....Assistam ' O Leblon de Manoel Carlos ' era um amor por estar produzindo tudo aquilo, a gente não fazia novela a gente fazia mágica! Isso, só quem fez, sabe.Vogue: Recentemente, você disse que se sentia mais forte e confiante em relação à sua autoestima. O que contribuiu para essa mudança e como isso impactou sua vida pessoal e profissional?Júlia Almeida: Eu fiz uma postagem no meu Instagram sobre autoestima. Uso minhas mídias para falar sobre causas, passar mensagens positivas para as pessoas. E claro, coloco fotos dos meus cachorros. Rs Dito isso, fui a primeira pessoa pública no Brasil a falar abertamente sobre epilepsia em 2018 por exemplo. Isso é um fato. Logo depois, várias influenciadoras e atrizes falaram. Fiz na época um evento sem patrocínio nenhum no Jockey aberto ao público com uma mesa de conversa que tinha: neurologista, psicólogos, nutricionistas, professor de yoga e respiração. Na época e mediadora foi a Patricia Poeta, fiz uma live e chegaram caravanas de vários lugares. O pessoal do Jockey ficou desesperado pela quantidade de gente que estava entrando. Depois fui embaixadora da ABE por um tempo. Muita gente pergunta sobre meu sinal de nascença e queloides. Juro que esqueço que tenho as cicatrizes hoje em dia. Mas já sofri muito com e por elas. Não vou ficar aqui choramingando mas não foi um caminho fácil de percorrer. Tenho sempre uma foto no meu quarto da época que usava camiseta para ir à praia, não tirava, tinha vergonha. Tinha que chegar horas antes das minhas cenas para maquiar o corpo todo quando mais nova. Nas últimas novelas fui ficando mais confiante. Enfim, foi um processo difícil e doloroso, mas de muito aprendizado. Vogue: Relembrando seus papéis em novelas do seu pai, Manoel Carlos, qual foi o papel que mais marcou sua carreira e por quê?Júlia Almeida: Numa entrevista outro dia fui descobri que fiz mais trabalhos na televisão sem ser do meu pai do que assinado por ele, rsrs. O entrevistador que me deu essa informação e falei: jura?! haha Mas vamos lá, tenho um carinho muito grande por todos os personagens, claro. Mas acredito que Natália (Por Amor) e Estella (Laços de Família). Natália por que ainda era muito insegura e crua e foi o meu primeiro personagem com mais responsabilidade. Ali tinha 14 anos e precisava aparentar mais velha e me deu a Vivianne de presente na vida. Estella, também me trouxe Giane (Reynaldo) e Marieta (Severo), as duas mexeram com uma parte muito profunda minha, por que tinham que ser irmãs quase que perfeita. Eram a temperança e a sabedoria, precisei aprender a escutar como atriz, isso é importantíssimo! Doei muito para esses dois personagens e aprendi também demais também.Vogue: Além da arte, você também é designer e tem uma marca de slow fashion. Quando sua relação foi ficando mais forte com a moda e como ela está atrelada ao seu dia a dia?Júlia Almeida: Sim, tenho a Florita Beachwear :) a marca e seu conceito nasceu em 2017 quando morava em Londres. O conceito sempre foi a sustentabilidade, ter poucas peças e ser um portal da nossa cultura para o mundo. Comecei com biquinis e cangas porque sou carioca e apaixonada pela minha cidade. Sempre gostei de moda, não de seguir moda mas gosto de culturas, e para mim moda é isso. Seguir tendências já não é muito comigo. As coleções da Florita geralmente são anuais e não tem muita regra, é o que me inspira: algumas peças de roupas, assessórios com resto de material feito no tear, já tivemos uma linha home. Adoro bordados à mão e tudo é livre, leve. Nada agarrado no corpo. A filosofia da marca também é fazer uma pequena mala para viagem então tudo se mistura. O beachwear tem dois lados e os produtos são feitos por artesãos locais entre Paraty-Bahia, meus dois lugares do coração. Tivemos seis coleções até agora, não tivemos nenhuma coleção ano passado já que foquei na Boa Palavra, mas trabalhei em sua estratégia e espero que ano que vem tenha mais Florita por aí. Ainda temos alguma peça de home na Ori. Trancoso dos meus queridos amigos Luís e Peu que fica no Quadrado. Quer participar do canal da Vogue Brasil no WhatsApp?Basta clicar neste link para participar do canal e receber as novidades em primeira mão. Assim que você entrar, o template comum de conversa do WhatsApp aparece na sua tela. A partir daí, é só esperar as notícias chegarem!

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. As novelas de Manoel Carlos são um marco na dramaturgia brasileira. É quase impossível pensar no autor e não lembrar do Leblon, de suas Helenas, e, é claro, muita bossa nova nas trilhas.

Pensando na importância do legado do pai, a atriz e empreendedora Júlia Almeida , decidiu produzir uma série documental íntitulada O Leblon de Manoel Carlo s, de oito episódios -- e o primeiro acaba de ficar disponível no Youtube. Para ela, dirigir um projeto tão pessoal e significativo, especialmente quando se está lidando com o legado de um pai renomado , é uma tarefa que exige uma combinação de sensibilidade e profissionalismo. "Foi muito visceral.



Manoel Carlos é intenso como profissional, como pessoa e sua história também. É muito fácil pensar nele e pensar instantaneamente em 'novelas', mas para escrever as novelas que tiveram os maiores ibope da televisão brasileira ele caminhou muito, mas muito mesmo e neste primeiro documentário começo a mostrar as inspirações do dia a dia deste escritor", diz em entrevista exclusiva à Vogue Brasil. Sobre a influência de Manoel Carlos, Júlia, que convidou artistas ilustres para mergulhar mais a fundo nas obras do pai, reflete: "Meu pai sempre soube usar o poder que tinha em mãos para o bem.

E acredito que isso é um dos maiores diferenciais dele. A palavra que mais escutei dos entrevistados ao descrever Manoel Carlos foram: observador e generoso." Entre os convidados estão Vera Fischer , Julia Lemmertz, Ângela Chaves, Rogério Gomes, Jayme Monjardim e Marcos Gasparian .

E Júlia não faz parte desta história apenas como observadora. Ela, que está longe das telinhas desde uma participação em Tempos de Amar (2018), atualmente comanda uma marca de moda, a Florita Beachwear, além da produtora Boa Palavra, responsável pela produção da série . "Minha vida desde bebê era de colo em colo de atores e diretores, entrando nos estúdios e passeando pelas externas.

Participava das reuniões com adultos tomando whisky, fumando cigarro na minha cara e recitando poemas...

assistia filmes antigos e escutava jazz e música clássica", conta. Júlia lembra com carinho dos desafios e aprendizados de seus papéis nas novelas de seu pai, destacando personagens como Natália, de Por Amor (1998) , e Estella, de Laços de Família (2000) , como marcos em sua carreira. Além de sua jornada profissional, a atriz também fala sobre autoestima .

Em seu perfil do Instagram, ela começou a falar de autoaceitação e saúde mental. Ela, que tem cicatrizes de nascença no pescoço, já precisou lidar com questões relacionadas à aparência, mas está em outra fase agora. "Juro que esqueço que tenho as cicatrizes hoje em dia.

Mas já sofri muito com e por elas. Não vou ficar aqui choramingando, mas não foi um caminho fácil de percorrer." Confira o bate-papo abaixo: Vogue: Como foi a experiência de dirigir um projeto tão pessoal e significativo, considerando que você também é responsável pela gestão do legado de seu pai? Júlia Almeida: Foi muito visceral, Manoel Carlos é intenso como profissional, como pessoa e sua história também.

É muito fácil pensar nele e pensar instantaneamente em ' novelas ' mas para escrever as novelas que tiveram os maiores ibope da televisão brasileira ele caminhou muito, mas muito mesmo e neste primeiro documentário começo a mostrar as inspirações do dia a dia deste escritor. Meu mantra durante este processo foi 'É apenas o início, e é apenas mais um trabalho.' tive que separar o emocional do profissional.

Confesso que neste caso não foi fácil mas tenho esta habilidade, assim como meu pai também tem. Vogue: Qual é a importância do Leblon como cenário na obra de Manoel Carlos e como o documentário explora essa relação entre o bairro e suas histórias? Júlia Almeida: Meu pai é nascido em São Paulo. Mas se perguntarem para ele diz sem pensar duas vezes 'sou Carioca'.

Tenho um áudio recente dele em que pergunto sobre sua relação com o bairro e ele diz algo do tipo: 'Morei em muitos lugares no Rio...

mas fui escolhido pelo Leblon , foi o destino.' o público tem muita curiosidade em saber como meu pai trabalhava, criava e entrava com tanta força e sabedoria na casa de todos com seus diálogos, histórias e personagens. Comecei esta série (é apenas a primeira) porque o Leblon sempre foi um personagem em suas novelas.

Ele nunca teve técnica de autor, nunca seguiu fórmulas, na verdade seu escritório é uma bagunça. Ele trabalha intuitivamente. O documentário explora esta relação pessoal do Manoel Carlos escritor e pessoal com o bairro e como ele conseguiu, da sua maneira, ser o primeiro escritor de novelas do Brasil a valorizar um bairro.

Ele soube usufruir do poder da telenovela brasileira. Como é um cronista nato, precisava de um cenário para suas histórias e Helenas (personagem que desenvolveu com nove anos de idade) então, escolheu o Leblon. Vogue: Há alguma história ou momento especial durante a produção que você gostaria de compartilhar? Júlia Almeida: Muitos! Mas não quero estragar a surpresa! O que falar agora? Só tenho a agradecer a todos que contribuíram e seus depoimentos.

Me emocionei demais com todos ,mas principalmente com os meus colegas de trabalho que falaram com um carinho enorme. Enfim, haja coração! Espero mesmo que o público goste porque ele é tão amado por todos que merecem ver seus trabalhos de forma verdadeira e homenagens completas, como Manoel Carlos gostaria. O legado é dele.

Vogue: O documentário mostra o impacto das obras de seu pai na cultura brasileira. De que maneira você acredita que a abordagem única de Manoel Carlos sobre as relações humanas e familiares influenciou outras produções televisivas e literárias? Júlia Almeida: Meu pai sempre soube usar o poder que tinha em mãos para o bem. E acredito que isso é um dos maiores diferenciais dele.

A palavra que mais escutei dos entrevistados ao descrever Manoel Carlos foram: observador e generoso. Mas ele é extremamente firme com seu trabalho ao criar este universo que todos acompanham até hoje. O trabalho de um autor de novelas é escrever, e pronto.

Ele não. Ele tomava conta da música, dos atores, diretores, escrevia cenas inéditas, cada tema central tinha uma causa social e, por saber que seu produto atingia o país inteiro ele falava de família, e não há nada mais complexo. Escrevia diálogos que na época os pais não tinham coragem de falar com os filhos, tocava em assuntos profundos que abria portas para discussões familiares.

Isso marcou uma geração, claro! As obras dele são atemporais, urbanas e muito brasileiras também. Isso é extremamente importante porque inspira novos autores, abre diálogos em universidades..

.etc..

. Vogue: Como foi trazer tantos nomes importantes da atuação para falar sobre o trabalho do seu pai? Teremos curiosidades inéditas nessas histórias? Poderia adiantar algo? Júlia Almeida: Fizemos uma seleção de pessoas da vida pessoal e profissional dele que foram combustível diário para que ele encontrasse e construísse este universo apresentado para todos. E, também, empresários de hoje que usufruem deste 'novo Leblon' que mudou completamente por conta das novelas do Manoel Carlos.

Portanto o documentário faz este link entre o passado e o presente. Vogue: Como a experiência de crescer em um ambiente onde a televisão e as novelas eram parte do cotidiano influenciou suas próprias escolhas de carreira e sua visão sobre a atuação? Júlia Almeida: Para mim esse universo sempre foi muito normal. Antes até de ter consciência do que acontecia ao meu redor.

Minha mãe, Bety não gostava de me expor, na maternidade meu irmão Ricardo me vestia de menino e pedia para trocarem meu nome já que muita gente queria saber quem era 'a filha do Manoel Carlos'. Quando minha mãe saiu do hospital me enrolou em vários panos por conta dos paparazzis na porta, isso nos anos 80 e foi aí que ela percebeu que não tinha muito jeito..

.e precisava me jogar logo nesse universo. Então minha vida desde bebê era de colo em colo de atores e diretores, entrando nos estúdios e passeando pelas externas.

Participava das reuniões com adultos tomando whisky, fumando cigarro na minha cara e recitando poemas...

assistia filmes antigos e escutava jazz e música clássica. Tinha um cercado de criança no escritório do meu pai e ali ficava e adorava brincar com a máquina de escrever dele. Meu cotidiano era esse.

Eu tinha pouca relação com crianças. Não tive muita escolha sobre ser atriz, aconteceu..

.sempre gostei porque externas e gravações eram meu quintal e assim iniciei minha carreira aos 7 anos, e aos 14 já tinha carteira assinada. Com 19 saí de casa para estudar em NY e voltava para fazer novelas.

Meu pai falou 'Vai, não esqueça que não tem nada que o trabalho não cure. Você é mulher então cuidado com casamento por que prende, e filhos, que é para a vida toda. Foque no seu oficio, seja ele qual for.

Seja do mundo.' e dali segui. Vogue: Você poderia comentar sobre como a indústria da televisão mudou desde que você começou e quais são as principais diferenças que você percebe em relação ao passado? Júlia Almeida: Ontem à noite vi um trecho de um videocast que Alice Braga fala exatamente sobre isso.

..e, pelo menos sobre o pedaço que assisti, concordo plenamente.

Muita gente me pergunta por que não volto a fazer televisão, etc...

estamos (todos) sendo de alguma forma pressionados a virarmos influenciadores de internet e o nosso país está no topo desta lista. Sobre o produto novelas/roteiro, assisto mais a streamings, adoro séries! Isso sim, acredito que estamos no caminho certo. Agora novela como antigamente?! Com aquele amor, energia, dedicação e prazer?! Ahhhhh.

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Assistam ' O Leblon de Manoel Carlos ' era um amor por estar produzindo tudo aquilo, a gente não fazia novela a gente fazia mágica! Isso, só quem fez, sabe. Vogue: Recentemente, você disse que se sentia mais forte e confiante em relação à sua autoestima. O que contribuiu para essa mudança e como isso impactou sua vida pessoal e profissional? Júlia Almeida: Eu fiz uma postagem no meu Instagram sobre autoestima.

Uso minhas mídias para falar sobre causas , passar mensagens positivas para as pessoas. E claro, coloco fotos dos meus cachorros. Rs Dito isso, fui a primeira pessoa pública no Brasil a falar abertamente sobre epilepsia em 2018 por exemplo.

Isso é um fato. Logo depois, várias influenciadoras e atrizes falaram. Fiz na época um evento sem patrocínio nenhum no Jockey aberto ao público com uma mesa de conversa que tinha: neurologista, psicólogos, nutricionistas, professor de yoga e respiração.

Na época e mediadora foi a Patricia Poeta, fiz uma live e chegaram caravanas de vários lugares. O pessoal do Jockey ficou desesperado pela quantidade de gente que estava entrando. Depois fui embaixadora da ABE por um tempo.

Muita gente pergunta sobre meu sinal de nascença e queloides. Juro que esqueço que tenho as cicatrizes hoje em dia. Mas já sofri muito com e por elas.

Não vou ficar aqui choramingando mas não foi um caminho fácil de percorrer. Tenho sempre uma foto no meu quarto da época que usava camiseta para ir à praia, não tirava, tinha vergonha. Tinha que chegar horas antes das minhas cenas para maquiar o corpo todo quando mais nova.

Nas últimas novelas fui ficando mais confiante. Enfim, foi um processo difícil e doloroso, mas de muito aprendizado. Vogue: Relembrando seus papéis em novelas do seu pai, Manoel Carlos, qual foi o papel que mais marcou sua carreira e por quê? Júlia Almeida: Numa entrevista outro dia fui descobri que fiz mais trabalhos na televisão sem ser do meu pai do que assinado por ele, rsrs.

O entrevistador que me deu essa informação e falei: jura?! haha Mas vamos lá, tenho um carinho muito grande por todos os personagens, claro. Mas acredito que Natália (Por Amor) e Estella (Laços de Família). Natália por que ainda era muito insegura e crua e foi o meu primeiro personagem com mais responsabilidade.

Ali tinha 14 anos e precisava aparentar mais velha e me deu a Vivianne de presente na vida. Estella, também me trouxe Giane (Reynaldo) e Marieta (Severo) , as duas mexeram com uma parte muito profunda minha, por que tinham que ser irmãs quase que perfeita. Eram a temperança e a sabedoria, precisei aprender a escutar como atriz, isso é importantíssimo! Doei muito para esses dois personagens e aprendi também demais também.

Vogue: Além da arte, você também é designer e tem uma marca de slow fashion. Quando sua relação foi ficando mais forte com a moda e como ela está atrelada ao seu dia a dia? Júlia Almeida: Sim, tenho a Florita Beachwear :) a marca e seu conceito nasceu em 2017 quando morava em Londres. O conceito sempre foi a sustentabilidade, ter poucas peças e ser um portal da nossa cultura para o mundo.

Comecei com biquinis e cangas porque sou carioca e apaixonada pela minha cidade. Sempre gostei de moda, não de seguir moda mas gosto de culturas, e para mim moda é isso. Seguir tendências já não é muito comigo.

As coleções da Florita geralmente são anuais e não tem muita regra, é o que me inspira: algumas peças de roupas, assessórios com resto de material feito no tear, já tivemos uma linha home. Adoro bordados à mão e tudo é livre, leve. Nada agarrado no corpo.

A filosofia da marca também é fazer uma pequena mala para viagem então tudo se mistura. O beachwear tem dois lados e os produtos são feitos por artesãos locais entre Paraty- Bahia , meus dois lugares do coração. Tivemos seis coleções até agora, não tivemos nenhuma coleção ano passado já que foquei na Boa Palavra, mas trabalhei em sua estratégia e espero que ano que vem tenha mais Florita por aí.

Ainda temos alguma peça de home na Ori. Trancoso dos meus queridos amigos Luís e Peu que fica no Quadrado. Basta clicar neste link para participar do canal e receber as novidades em primeira mão.

Assim que você entrar, o template comum de conversa do WhatsApp aparece na sua tela. A partir daí, é só esperar as notícias chegarem!.