Assucena: "Sobre bissexualidade e pansexualidade"

Em nova coluna, a cantora discute interpretações equivocadas e desafios para bissexuais e pansexuais Há muito o que se discutir sobre sexualidade, mas um dos temas mais incompreendidos por ignorância, por falta de empatia ou por falta educação sexual é da bissexualidade e pansexualidade. É bem provável que você já tenha ouvido que bissexual é sujeito indeciso ou de que está com receio de revelar que é “sapatão” ou “gay”.A sexualidade é uma das expressões mais interessantes de nossa humanidade. Sua construção no indivíduo é fruto de muitos fatores: históricos, sociais, culturais e também genéticos. Ela já foi compreendida como "opção sexual" e depois como "orientação", por entendermos que sexualidade não se escolhe, não a optamos como quem decide por um produto na prateleira de um supermercado. Ela é uma expressão humana orientada culturalmente. Gosto muito do conceito de “espectro” sexual que por sua vez abraça o conceito de orientação sexual. Ora, apesar de orientados sexualmente, o indivíduo pode transitar pelo espectro sexual que é plural. Ou seja, transitamos nas mais diversas expressões sexuais ao longo da vida. Quem nunca beijou a coleguinha do mesmo sexo; ou roçou no amigo do mesmo sexo e ainda assim não teve dúvidas que se atrai pelo sexo oposto? É certo que esse trânsito não é tão simples, não fosse pelas violentas pressões sociais.Vivemos num tempo, no qual a heterossexualidade é uma expressão hegemônica, uma vez que é imposta violentamente como um padrão social. Por isso chamamos essa predominância de heteronormatividade. As demais sexualidades são tratadas como dissidentes e até como imorais. Para falar de bissexualidade e pansexualidade, julgo importante compreender que nosso padrão histórico sexual é predominantemente imposto para se atrair apenas por um gênero/sexo. A heterossexualidade é monossexual ou seja, produz seu interesse apenas pelo sexo oposto. A homossexualidade também é monossexual e produz seu interesse apenas por indivíduos do mesmo sexo. É possível que a homossexualidade seja um contraponto direto à heteronormatividade, quase como um espelho contranormativo. Talvez por isso a bissexualidade e a pansexualidade parecem amplamente incompreendidas em nosso tempo, seja no universo homo ou hétero. Porque ambas, bi e pan não se encaixam no jogo da monossexualidade.Para Freud o pai da psicanálise a bissexualidade é inerente ao ser-humano, uma vez que crianças não distinguem o sexo feminino do masculino. Logo, todas, todos e todes nascemos bissexuais. As outras sexualidades são formadas depois, normativa ou contranormativamente. Mas qual seria a diferença entre bissexualidade e pansexualidade? Há controvérsias; mas é bem provável que não haja diferença, mas seria apenas uma questão de autodeclaração. Apesar da palavra bissexualidade conter o prefixo bi, relativo à dois sexos; o Manifesto Bissexual publicado em 1990 na revista Anything That Moves diz que: “Bissexualidade é um todo, identidade fluída. Não assuma que a bissexualidade é naturalmente binária ou poligâmica: que nós temos “dois” lados ou que nós precisamos estar envolvidos simultaneamente com dois gêneros para sermos seres humanos completos. De fato, não assuma que existem apenas dois gêneros”. Ou seja, a bissexualidade é muito mais ampla do que pressupõe seu prefixo, podendo ser o interesse por dois ou mais gêneros, incluindo pessoas trans não-binárias e binárias.E a pansexualidade? O prefixo “pan” vem do grego antigo e quer dizer “tudo”. Portanto a pansexualidade seria o interesse por qualquer expressão de gênero sexual humana. Lembrando que pansexualidade não tem nada a ver com zoofilia ou qualquer coisa que fuja da relação inter-humana. Sendo assim pansexualidade e bissexualidade seriam da mesma natureza. Mas há quem diga que a pansexualidade vai além de gênero. Se uma pessoa bissexual pode se interessar por quaisquer gêneros; a pansexual também, mas ela transcenderia a ideia de gênero; cor; peso; altura, comportamento; classe social ou origem, atribuindo o interesse pelo indivíduo despido de padrões socioeconômicos estéticos ou comportamentais. Sendo assim a pessoa pan se interessaria por outras em seu sentido mais amplo.Trazer luz a uma questão como essa é também uma tentativa de apaziguar a sensação de limbo e não pertencimento de muitas pessoas bissexuais e pansexuais que se sentem nesse não-lugar. Na maioria das vezes, essas pessoas sentem-se incompreendidas dentro e fora da sigla. Isso é um absurdo. Alguns vão dizer: “mas pra quê rotular?” Eu diria que não é sobre rótulos, mas sobre contornos; sobre definições. A palavra nomeia, e quando se nomeia algo, aquilo que era abstrato se concretiza, mesmo que idealmente. Sexualidade pode parecer complexa mesmo; mas no fundo é bem mais simples do que imaginamos.Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.Quer participar do canal da Vogue Brasil no WhatsApp?Basta clicar neste link para participar do canal e receber as novidades em primeira mão. Assim que você entrar, o template comum de conversa do WhatsApp aparece na sua tela. A partir daí, é só esperar as notícias chegarem!

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Há muito o que se discutir sobre sexualidade , mas um dos temas mais incompreendidos por ignorância, por falta de empatia ou por falta educação sexual é da bissexualidade e pansexualidade. É bem provável que você já tenha ouvido que bissexual é sujeito indeciso ou de que está com receio de revelar que é “sapatão” ou “gay”. A sexualidade é uma das expressões mais interessantes de nossa humanidade.

Sua construção no indivíduo é fruto de muitos fatores: históricos, sociais, culturais e também genéticos. Ela já foi compreendida como "opção sexual" e depois como "orientação", por entendermos que sexualidade não se escolhe, não a optamos como quem decide por um produto na prateleira de um supermercado. Ela é uma expressão humana orientada culturalmente.



Gosto muito do conceito de “espectro” sexual que por sua vez abraça o conceito de orientação sexual . Ora, apesar de orientados sexualmente, o indivíduo pode transitar pelo espectro sexual que é plural. Ou seja, transitamos nas mais diversas expressões sexuais ao longo da vida.

Quem nunca beijou a coleguinha do mesmo sexo; ou roçou no amigo do mesmo sexo e ainda assim não teve dúvidas que se atrai pelo sexo oposto? É certo que esse trânsito não é tão simples, não fosse pelas violentas pressões sociais. Vivemos num tempo, no qual a heterossexualidade é uma expressão hegemônica, uma vez que é imposta violentamente como um padrão social. Por isso chamamos essa predominância de heteronormatividade.

As demais sexualidades são tratadas como dissidentes e até como imorais. Para falar de bissexualidade e pansexualidade, julgo importante compreender que nosso padrão histórico sexual é predominantemente imposto para se atrair apenas por um gênero/sexo. A heterossexualidade é monossexual ou seja, produz seu interesse apenas pelo sexo oposto.

A homossexualidade também é monossexual e produz seu interesse apenas por indivíduos do mesmo sexo. É possível que a homossexualidade seja um contraponto direto à heteronormatividade, quase como um espelho contranormativo. Talvez por isso a bissexualidade e a pansexualidade parecem amplamente incompreendidas em nosso tempo, seja no universo homo ou hétero.

Porque ambas, bi e pan não se encaixam no jogo da monossexualidade. Para Freud o pai da psicanálise a bissexualidade é inerente ao ser-humano, uma vez que crianças não distinguem o sexo feminino do masculino. Logo, todas, todos e todes nascemos bissexuais.

As outras sexualidades são formadas depois, normativa ou contranormativamente. Mas qual seria a diferença entre bissexualidade e pansexualidade? Há controvérsias; mas é bem provável que não haja diferença, mas seria apenas uma questão de autodeclaração. Apesar da palavra bissexualidade conter o prefixo bi, relativo à dois sexos; o Manifesto Bissexual publicado em 1990 na revista Anything That Moves diz que: “Bissexualidade é um todo, identidade fluída.

Não assuma que a bissexualidade é naturalmente binária ou poligâmica: que nós temos “dois” lados ou que nós precisamos estar envolvidos simultaneamente com dois gêneros para sermos seres humanos completos. De fato, não assuma que existem apenas dois gêneros”. Ou seja, a bissexualidade é muito mais ampla do que pressupõe seu prefixo, podendo ser o interesse por dois ou mais gêneros, incluindo pessoas trans não-binárias e binárias.

E a pansexualidade? O prefixo “pan” vem do grego antigo e quer dizer “tudo”. Portanto a pansexualidade seria o interesse por qualquer expressão de gênero sexual humana. Lembrando que pansexualidade não tem nada a ver com zoofilia ou qualquer coisa que fuja da relação inter-humana.

Sendo assim pansexualidade e bissexualidade seriam da mesma natureza. Mas há quem diga que a pansexualidade vai além de gênero. Se uma pessoa bissexual pode se interessar por quaisquer gêneros; a pansexual também, mas ela transcenderia a ideia de gênero; cor; peso; altura, comportamento; classe social ou origem, atribuindo o interesse pelo indivíduo despido de padrões socioeconômicos estéticos ou comportamentais.

Sendo assim a pessoa pan se interessaria por outras em seu sentido mais amplo. Trazer luz a uma questão como essa é também uma tentativa de apaziguar a sensação de limbo e não pertencimento de muitas pessoas bissexuais e pansexuais que se sentem nesse não-lugar. Na maioria das vezes, essas pessoas sentem-se incompreendidas dentro e fora da sigla.

Isso é um absurdo. Alguns vão dizer: “mas pra quê rotular ?” Eu diria que não é sobre rótulos, mas sobre contornos; sobre definições. A palavra nomeia, e quando se nomeia algo, aquilo que era abstrato se concretiza, mesmo que idealmente.

Sexualidade pode parecer complexa mesmo; mas no fundo é bem mais simples do que imaginamos. Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil. Basta clicar neste link para participar do canal e receber as novidades em primeira mão.

Assim que você entrar, o template comum de conversa do WhatsApp aparece na sua tela. A partir daí, é só esperar as notícias chegarem!.